O fiu-fiu nosso de cada dia

O fiu-fiu nosso de cada dia

Foto: Reprodução/Internet

Lugar de mulher é na cozinha. Mulher no volante, perigo constante. Se não quer ser assediada, não saia de decote. Ô lá em casa. E talvez a pior delas: em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.

Estas são algumas frases criadas muito antigamente. No entanto, e lamentavelmente, a aplicação delas é atualíssima. O machismo está intrínseco na nossa sociedade.

Não pretendo neste texto defender uma postura radical feminista, de eles contra elas. A questão tratada aqui não é nem mesmo rotular ou apontar para o lado e acusar aquele que é ou não é machista. O importante é assumir a existência de um machismo que oprime as mulheres, seja ela velado ou escancarado.

Não adianta absolutamente nada você não assediar uma mulher se, ao seu lado, há homens que assediam e você não tem coragem de falar nada.

E o assédio, que fique bem claro, não se resume à “encoxada” no ônibus. O fiu-fiu ou aquela buzinada, guardada as devidas as proporções, também causam transtornos e tiram a liberdade da mulher.

O mais curioso é que nunca ouvi dizer que alguém conquistou uma mulher após dar uma buzinada ou usar a técnica milenar do fiu-fiu. Contudo, o rito de marcar presença ao encontrar uma fêmea, com uma atitude tribal, se mantém.

Nós somos de uma geração que recebe, a todo momento, uma carga de informação extremamente machista, mas são poucos os que conseguem enxergar isso.

Recentemente, um ator global, um desses galãs de novela, justificou o assédio que cometeu contra uma camareira dizendo que ele ‘faz parte de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas’.

A frase dele não justifica a atitude covarde, mas é verdadeira. E a geração dele, que está na casa dos 70 anos, não deixou de existir, mas, sim, se renovou. Rejuvenesceu. E se antes o machismo estava nas rodas de conversas e nos banheiros públicos, agora está nas redes sociais, na Internet, nos comerciais.

As mulheres representam a maioria da população, porém ocupam apenas 44% das vagas do mercado de trabalho formal, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E elas ganham em média menos do que os homens, mesmo tendo mais tempo de estudo e qualificação. No total, a diferença de remuneração é, em média, de 16%. Quanto à participação em cargos de chefia, algo em torno de 5% a 10% são chefiadas por mulheres.

Na política, a participação é tão pífia quanto. Um exemplo, para ficar apenas no âmbito municipal, é quando olho para o lado durante as sessões na Câmara de Vereadores de Suzano e, dos 19 eleitos, vejo apenas duas mulheres.

Em tempos em que a culpa recai aquela que na verdade é a vítima, assumir que o machismo é algo presente no nosso dia-a-dia já é passo rumo à igualdade.

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